Sabe o que me choca nesse episódio de invadir o plenário, quebrar porta de vidro e tentar agredir parlamentares? É chamar todos os políticos de bandidos, ladrões, salafrários, corruptos. Generalizar é demais! Aqui, há muitos parlamentares do bem, que estão se mexendo para mudar o sistema político, ir de encontro ao desejo genuíno e constitucional do povo de participar do poder, de discutir e decidir conjuntamente com o Parlamento as causas e as questões que dizem respeito aos brasileiros. Isso é democracia em evolução e tem muita gente aqui se empenhando ao máximo para dividir com a população o poder de escolher o que for melhor para a Nação. Agredir física e moralmente quem quer que seja só nos leva ao retrocesso. Quando violência e a arbitrariedade atropelam o diálogo democrático, as cicatrizes são profundas e dolorosas e, muitas vezes, as sequelas são irreversíveis. Pedir a volta dos militares e da ditadura é desejar amordaçar a liberdade de expressão, é decretar o fim do direito de ir e vir sem repressão. Os que defendem os anos de chumbo esquecem ou ignoram o Brasil da época do Doi-Codi, das masmorras nos subsolos de departamentos repressores, dos estupros de mulheres que lutavam por um país livre, das torturas de pais de família que sumiram e nunca mais foram vistos por seus filhos. Dizer que naquela época não havia tanta notícia ruim é esquecer que a imprensa era proibida de relatar o cenário brasileiro. Quantas e quantas vezes edições diárias dos jornais chegaram às bancas recheadas de receitas de bolo, porque as matérias que denunciavam o regime repressor foram censuradas. Teatros, diretórios acadêmicos, fábricas eram invadidos por agentes do governo militar. Artistas, estudantes e trabalhadores desapareciam como o sol ao anoitecer. Temos problemas hoje, sim temos muitos problemas a resolver. Problemas de representatividade política, crise econômica, corrupção, contas fiscais em estado de miséria, mas isso não se resolve com violência. Imaginem se todo mundo for resolver no braço a insatisfação que tem em casa, no trabalho, na sociedade. Vai virar um campo de guerra. Sou defensora da manifestação popular, mas de forma pacífica e pró-ativa. Somos civilizados, temos a boca como nossa maior arma. É discutindo ideias, propostas, participação popular no poder que vamos mudar esse cenário e construir um novo País. Deputados não chegaram aqui por decisão própria, chegaram aqui pelo voto. Então, cobre de seu deputado um posicionamento de acordo com o seu desejo de mudança, debata com ele sua posição sobre o que lhe incomoda, mas invadir a Câmara e agredir parlamentares, assessores ou quem quer que seja, como fizeram com o jornalista Caco Barcellos, impedido de exercer seu trabalho no Rio de Janeiro, não é solução. Quem apela para a violência quer impedir o diálogo. Hoje, invadem o Parlamento, amanhã invadem a casa da família de um político, de um ministro, de um jornalista, de um empresário, de um trabalhador e o pandemônio estará instalado, numa desordem social sem precedentes. Não é esse Brasil que queremos, não é mesmo?
Manifestantes invadem a Câmara e pedem ‘intervenção militar’
Compartilhe este post com seus amigos: