Aposta saborosa
No final da extensa sessão para votar a PEC 443, com todo mundo pressionando e orientando o voto ‘sim’ ao substitutivo do projeto original, um deputado me disse: “Gente, não existe isso. Como é que vai vincular os salários de todas essas categorias ao subsídio dos ministros do Supremo Tribunal Federal? O impacto vai ser enorme. Não vai passar”. E eu respondi: “Olha, do jeito que está a pressão neste plenário, com as galerias pressionando todos os deputados, passa sim, e passa atropelando. Não era o momento de votar isso, desse jeito que está sendo proposto, por causa da situação que vive o país, embora a reivindicação de tantos anos também seja justa”. Fizemos uma aposta. E eu ganhei uma caixa de bombons, que foi entregue no meu gabinete. Foi muito bom, o chocolate (risos)
Deputada Renata Abreu,
Em primeiro lugar, obrigado por me responder. Isso já me mostrou que você tem caráter. Temos um problema sério no Brasil (entre centenas) que após as eleições é levantado um muro gigante entre os eleitores e os elegidos. Sua resposta para mim mostra um pequeno furo nesse muro. Eu achava que meu comentário nem iria ser publicado.
Segundo lugar, você está certa. Você tem sim, todo o direito de descontrair um pouco em seu ambiente de trabalho. E sim, eu não sei o que acontece dentro de uma câmara dos deputados. Tudo é muito obscuro para nós cidadãos. Os seus posts esclarecem um pouco, mas é muito pouco. Eu não entendo por exemplo:
– Como que se admite o funcionários da AGU invadirem o Congresso assim, no dia de votar o aumento dos seus salários?
– o que significa a AGU pressionar? o que eles ameaçam se a lei não for aprovada?
– por que estão tendo tantas votações de madrugada? qual é a dificuldade de votar de dia?
Terceiro lugar, o motivo do meu comentário foi um só. O seu voto a favor da PEC 443. Tanto que eu também comentei no seu post “PEC 443: muita água vai rolar” antes de fazer esse comentário, mas você (ou seus assessores) não publicou. Para mim é inadmissível o seu voto aprovando uma lei inconstitucional com o país na situação que está. E pra piorar você ainda me faz um post antes dizendo que está preocupada com o futuro do país.
Para concluir, eu acho que trabalhar na política uma profissão linda. Você pode agir positivamente na vida de muita gente colocando suas ideias. Por favor, ajude a levar a voz do povo brasileiro para dentro do congresso nacional.
Apesar de ter ganho a caixa de bombons, acredito que a deputada preferiria ter perdido a aposta, não é mesmo? Acompanhei pela TV a sessão da PEC 433 e, como bem relatado no post anterior, a pressão sobre os deputados foi tamanha que imagino o quanto todos vocês ficaram divididos na hora da votação. Agora, é torcer para que no segundo turno haja outros substitutivos para que a causa não prejudique ainda mais a situação do Brasil.
Você ganhou uma caixa de bombons e país perdeu mais alguns bilhões para o funcionalismo público.
Parabéns
Denis, não depende só de mim. A grande verdade é que ninguém entendeu o que aconteceu naquela Casa nesses dias. Eu mesma nunca acreditei que esta PEC iria ser sequer pautada. Mas, diante da tensão e no final da votação e do trabalho as 2 da madrugada, qual o problema de sugerir um placar? Eu acho engraçado a hipocrisia do nosso povo muitas vezes: deputado que aparece com um copo de cerveja na mão não presta (como se toda a sociedade não bebesse cerveja), que faz uma piada é porque não está preocupado com o País, entre outros paradigmas que precisamos quebrar. Sou um ser humano! Estudei o assunto e ouvi todas as partes do processo. Quem está de fora e não participa dos debates internos muitas vezes não entende o porquê de nossas escolhas. O fato é que depois de tantas discussões e estudos decidi meu voto e, para desestressar antes de abrir o placar, apostei o resultado da votação com um colega, já que a partir daquele momento o que valeria não era o voto só meu e o dele, mas da maioria, já que, felizmente, vivemos numa democracia. O que nós discutíamos ali era somente o resultado baseando no impacto da pressão popular e não o projeto em si. Inclusive, este deputado tinha votado ao contrário do que ele mesmo apostou, porque achava que o sentimento da maioria era diferente do dele. Bom, enfim, não é porque fizemos uma brincadeira na apuração da votação que isso significa que o meu voto ou o de qualquer um ali dentro não tenha sido plenamente debatido e escolhido de forma criteriosa e muito menos que estamos despreocupados com a situação do País. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Espero ter esclarecido e continuarei contando o que me propus: os bastidores. Isso inclui TUDO, até as brincadeiras, piadas, sentimentos e motivações. Isso não é um diário para inglês ver e parecer que os deputados são semi-deuses perfeitos, que tomam todas as decisões corretas e não pecam. Brinco, sim, como provavelmente você também o faz no seu ambiente de trabalho e com seus colegas, mas isso não tira de mim e nem de você o compromisso e a responsabilidade com o que nos foi delegado. Bom humor não é falta de seriedade. Não sejamos hipócritas!