Salsichas e leis

Frase muito comum no meio do povo, mas que se aplica também aqui: se as pessoas soubessem como são feitas as salsichas e as leis iam torcer o nariz. Porque, gente, está horrível a forma como está sendo conduzida a Lei Infraconstitucional da Reforma Política. Uma bagunça, o povo daqui grita ‘baixa pra isso’, ‘aumenta aquilo’ ou ‘tira isso’. Os deputados não sentaram numa comissão, como deveria ter sido feito, criada especialmente para debater esse tema e discutir os assuntos de relevância. Todos os deputados líderes estão criticando isso. Pior é saber que leis como essa alteram muita coisa no sistema eleitoral e, consequentemente, no futuro do nosso País. E está sendo feito desse jeito. Triste!

Gastrite atacando sem dó

renata regimento

Estudando o regimento  da Câmara no único horário livre: de madrugada

Semana em Brasília está sendo puxadinha. O Eduardo Cunha colocou para votação a Infraconstitucional da Reforma Política, sem nem colocar na comissão especial para discutir. O que a gente votou anteriormente foi a PEC (Proposta de Emenda Constitucional), agora estamos votando as alterações nas leis ordinárias, que precisa de menos votos em plenário. Só que todo mundo achou que viria um texto simples, mas veio um calhamaço de regras, e, obviamente, mais uma vez estão tentando acabar com os pequenos partidos. E a minha gastrite atacou de novo (rs). Para piorar, peguei uma inflamação nos olhos e tive de andar de óculos escuros no plenário. Que vergonha (kkkkk)! Então, estou eu aqui em pânico, articulando mais uma vez a defesa dos pequenos partidos. Poxa, na última eleição os partidos pequenos foram os que mais cresceram. Será que é isso o que tanto incomoda? Eu brigo mesmo. Ontem conseguimos unir os líderes e segurar a votação. Olha que absurdo: o texto que deveríamos votar chegou praticamente às 9 da noite do dia anterior, não deu tempo de analisá-lo, de apresentar as emendas necessárias, não tinha como votar. Para piorar, enquanto a gente discutia o teor, ainda estavam alterando o texto, ou seja, completamente inviável colocar em votação. E eu achei que ia se votar a urgência do projeto de lei. Explicando: para ir ao plenário, um projeto de lei que não passou pela comissão precisa antes de mais nada aprovar a urgência. Para ter urgência, o projeto precisa de maioria absoluta nos membros da Casa, ou seja, 257 votos. Então, não é tão fácil aprovar uma urgência de projeto. Para não correr esse risco, porque a urgência não passaria, o presidente da Câmara apensou esse projeto a um outro que trata da mesma lei e que já tinha urgência aprovada. Foi uma manobra regimental, permitida pelas regras da Câmara, mas… como assim? Como votar algo que a gente mal tinha tido tempo de ler? Foi muito complicado. Pra variar, todo mundo questionou essas pedaladas regimentais. Tanto é que no final do dia, às 11 horas da noite, marquei aula com meu professor de Regimento, o Caleb, para me aprofundar cada vez mais sobre o assunto, e descobri que tanto aquela questão da Maioridade Penal quanto esta agora, da urgência, foram manobras que o regimento, gostem ou não, permite. O fato de Eduardo Cunha conhecer profundamente o regimento faz com que ele consiga que as coisas andem na Casa, contra tudo e contra todos. É impressionante! Fiquei madrugada adentro estudando e entendendo de que forma posso usar o regimento a meu favor, para aprovar, efetivamente, os projetos de lei que tanto quero. Nenhum deputado acreditou que estava indo às 11 horas da noite estudar regimento interno, então, tirei uma foto para comprovar meu empenho.

renata oculos

Inflamação nos olhos me obrigou a trabalhar  de óculos escuros (risos)

Onde vamos parar?

Estava vendo os ataques que a presidente Dilma Rousseff está sofrendo pelas redes sociais. Há ofensas horríveis, desenhos chocantes com a imagem dela, comentários com palavras chulas e de baixo nível. Eu nunca fui petista, nunca votei no PT, mas acho que a gente não pode se esquecer que ela é um ser humano e, que, independentemente do cargo que ocupa, é mulher, mãe e avó, tem família. Fico muito triste quando vejo esses ataques, que atingem não só a ela como também toda sua família. Somos seres humanos e temos de pensar no outro, respeitá-lo sempre e acima de tudo. Hoje atacam a Dilma, amanhã pode ser qualquer um de nós, eu, você, sua família. Isso não pode continuar. Ofensas pessoais, caricaturas ridicularizando-a, onde vamos parar? Não compactuo disso, seja com quem for, e fico realmente muito triste e chocada que algumas pessoas se sintam bem fazendo esse tipo de manifestação deprimente. Lamentável!

 

Recepção revigorante

Tudo na vida tem seus prós e contras, mas, sem dúvida, o mais difícil na vida pública é ficar longe das pessoas que você ama. Eu tenho um filhinho de 2 anos, o Rafael, e um de 4, o Felipe. Passo a semana longe deles, me comunicando via FaceTime. Costumo desembarcar por volta das 10 e pouco da noite, porque sempre pego o último voo de Brasília para Congonhas. Desta vez, meu marido foi me buscar com os nossos filhos acordados. Geralmente, dormem às 20h30, mas o pai segurou os dois acordados, fazendo a maior algazarra no carro. Quando abri a porta, dei de cara com minhas crianças. Meu marido tinha montado uma espécie de cama na parte traseira do automóvel e os meninos estavam lá, felizes. Meu bebê de 2 anos, quando me viu, falou “mamãe chegou”. Ah, gente, foi emocionante demais! Nunca tinha falado essa frase. ‘Mamãe’ ele já fala faz tempo, mas ‘mamãe chegou’ foi a primeira vez. Ele veio e me agarrou forte. Nossa, gente, dói, dói demais ficar longe deles. Política é vocação e é preciso pensar muito antes de se dedicar a ela, porque tem de abrir mão de muita coisa para desempenhar bem essa missão. Mas, ver meus bebezinhos me esperando no aeroporto foi maravilhoso. Depois de uma semana tensa, exaustiva, dormindo muito tarde e acordando muito cedo, ser recebida desse jeito foi o melhor revigorante nesta minha volta pra casa.

renata filhos

Vencemos!

Foi emocionante, foi outra votação histórica e, desta vez, conseguimos aprovar a redução da maioridade penal de 18 para 16 nos. Dizem que foi uma pedalada regimental do Eduardo Cunha. A briga foi grande, principalmente por causa dessa questão regimental. Houve um trabalho de articulação muito intenso do Eduardo Cunha, muita gente o criticou, falando que quando perde uma votação, ele articula e coloca o tema de novo para ser votado. Não posso negar, o Eduardo articula muito. A diferença em relação ao texto anterior, votado na terça-feira, foi a retirada de tráfico de drogas, terrorismo e roubo qualificado do rol de crimes que fariam o jovem responder como adulto. O texto aprovado agora, com 323 deputados a favor, prevê a redução da maioridade para 16 anos para jovens que cometerem sequestro, estupro, homicídio doloso ou lesão corporal seguida de morte. Nenhum argumento da turma do ‘contra’ me convenceu a mudar meu voto, até porque um jovem de 16 anos não é mais uma criança e tem de ser responsabilizado por seus atos. Concordo que reduzir a maioridade penal não é a solução ideal, a solução é a Educação, mas não podemos mais fechar os olhos diante da impunidade de adolescente que matam e aterrorizam famílias e causam tanta dor por causa de seus crimes bárbaros. A redução penal vem para proteger a sociedade inocente. Quase 90% da população brasileira é a favor da maioridade penal aos 16 anos. E eu, como deputada federal, estou aqui como representante do povo.

maioridade vitoria

 

Ataques pela internet

Quem votou contra a Redução da Maioridade Penal foi bombardeado nas redes sociais. Eram tantos palavrões que alguns tiveram de recorrer ao dicionário para saber o significado. Isso me fez refletir: as mídias sociais deixaram de ser um palco de debates para se transformar num campo covarde de ofensas e ameaças. Uma deputada, que votou contra a redução, foi cruelmente atacada. As mensagens iam de pesados palavrões a pragas, rogando que a família dela caia nas mãos de um menor criminoso. Complicado isso, né? Democracia é opinar, se poscionar, mas, acima de tudo, democracia é respeitar o outro que pense diferente.  Isto é democracia!

Maioridade penal: eu votei SIM

Eu votei a favor, mas a redução da maioridade penal perdeu por cinco votos. Fiquei triste. Eu sou a favor da redução de 18 para 16 anos, por ‘ene’ argumentos. Como eu sempre digo, o que é apaixonante nesta Casa é você poder ouvir todos os argumentos, todos os pontos de vista, né, mas a gente vive numa democracia e tem de respeitar a opinião de cada um. Às vezes, as pessoas têm opiniões formadas e são intolerantes a qualquer outro que pense diferente. E isso não é democracia. Então, eu respeito cada um que é contra a redução da maioridade penal, as manifestações todas, mas estou triste. Para mim, um jovem de 16 anos não é mais uma criança. A gente não estava tratando ali, no plenário, de crianças de 8, 10 anos; estávamos tratando de um adolescente de 16 anos, que, no meu entendimento, tem discernimento, sim, para saber as consequências de seus atos. Quem tira uma vida tem de ser responsabilizado, sim. Nesse texto do substitutivo da PEC 171 (hoje, talvez, teremos votação do texto original), eu votei a favor da redução da maioridade penal para crimes contra a vida. Pelo ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), o jovem de 16 anos que mata alguém fica no mesmo lugar que um outro, que cometeu um furto, ou seja, se a gente está alegando que a cadeia é escola do crime, colocar um homicida ao lado de um pequeno infrator pode contaminar o segundo, não acham? Também não acredito que a sociedade possa recuperar um jovem de 16, 17 anos, que mata alguém. É possível, talvez, em 1% dos casos. Por isso, temos de trabalhar a Educação para resgatar a juventude que está vindo, mas não podemos deixar impune essa parcela que, infelizmente, talvez vítima da própria sociedade, já está perdida, porque nós estaremos colocando em risco a vida de pessoas inocentes. Só quem perdeu um filho, um pai, um parente, num crime gerado por um menor consegue descrever essa dor. Eu fui abordada por muitas mães e, realmente, essa sensação de impunidade é muito ruim. Vesti a camisa a favor da redução, mas, infelizmente, não passou. O que posso dizer para vocês é que o assunto não morreu. Hoje, talvez seja votado o texto original da maioridade penal, que é pior do que esse, vamos ver… Volto a dizer que respeito as opiniões divergentes, mas eu, pessoalmente, estou muito triste com esse resultado.

maioridade

 

 

Hoje, o bicho vai comer…

Hoje, vai ser votada a redução da Maioridade Penal. E o clima está muito tenso aqui. Quem é contra a redução para 16 anos começa a fazer um movimento muito grande, tem feito muito barulho por aqui, mandando carta, mandando pessoal para fazer pressão. E, incrível, quem é a favor não se mobiliza. E isso acaba contagiando, sabe. Eu vi isso acontecer quando da votação da Coincidência das Eleições. Era uma coisa que eu jurava que seria aprovada em plenário e, do nada, começou um contra, outro contra, um movimento forte do contra e, por fim, não passou. Então, hoje, horas antes do início da votação da Maioridade Penal, o clima é bem parecido. Antes, todo mundo era a favor da redução para 16 anos, mas agora começa uma discussão em torno de ‘ene’ coisas, o governo já se manifestou contra, há centenas de estudantes no entorno do Congresso, mobilizados para presionar a Câmara contra essa maioridade penal. Hoje, o bicho vai comer aqui…

Argumentações apaixonantes

Olha, o que é apaixonante nesta Casa é ouvir as argumentações sobre determinados temas. É impressionante! Às vezes, você pega um projeto de lei, como acabo de pegar um na CCCJ (Comissão de Constituição, Cidadania e Justiça), que é sobre danos morais a aqueles que forem responsáveis por danos afetivos, por abandono afetivo, sejam pais ou filhos. Eu li e achei ótimo esse projeto. Eu ouvi um deputado, que fez um discurso muito bonito, sobre a condição de ser pai, de ser filho, que o vínculo afetivo tem de ser natural e criar uma lei para forçar algo artificial não resultará em afetividade. Se um pai, por uma eventualidade, ou um filho não mantiverem laços afetivos não será uma lei que vai mudar isso. Um outro deputado fez uma argumentação também interessantíssima: vai acontecer muito, por exemplo, de mulher processando o ex-marido, pedindo danos morais por abandono afetivo ao filho. Vai ser muito subjetivo caracterizar o abandono afetivo.  Toda ex-mulher ou todo ex-marido que ficar com o filho vai falar que o outro é responsável por abandono afetivo só para processá-lo por danos morais. Então, quando você começa a ouvir as argumentações, às vezes fica sem saber como votar nesta Casa. Por sinal, o que mais acontece aqui é isso. Quando você analisa friamente os dois lados da moeda, é difícil tomar uma decisão, porque os dois lados têm seus prós e seus contras.

Elas mudam a política

Frase ótima que ouvi da minha vice-presidente do PTN de Itanhaém, Juliana Oliveira: “Quando uma mulher entra na política, a política muda essa mulher, mas quando várias mulheres entram na política, elas mudam a política”. Muito boa, gostei!

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